
No blog do Bruno Medina, há um post em que ele pede “emprestadas” fotos da mini-turnê no Nordeste, que aconteceu respectivamente nos dias 15, 16 e 17 e outubro em Recife, Fortaleza e Salvador. Ele explica que vai falar sobre esses shows sem o cansaço da maratona, “mas com a calma e dedicação que a ocasião e o público merecem”. No meu caso, além do esgotamento físico, mental e emocional, acontecimentos posteriores me impediram de escrever antes. Mas quero registrar agora esse momento, que além da lembrança, nenhum vídeo ou imagem conseguirá reproduzir fidedignamente no nível das sensações. Em mim, elas ainda estão fresquinhas.
Foram meses de expectativa. Sentimentos misturados. A sensação do abandono, enfim, sobreposta pela esperança de vê-los no palco novamente. Temos os discos, os DVDs, toda a sorte de vídeos não-oficiais espalhados pela rede, entrevistas, documentários, lembranças, mas foi em cada um dos shows desses músicos em que se consagrou a comunhão da banda com seus fãs. Era nos shows em que as lágrimas de puro êxtase eram compartilhadas, enquanto vozes em uníssono entoavam as palavras que saíram daquelas cabecinhas geniais para ilustrar uma fase única da história de nossas vidas. Ao longo desses quatro discos, aprendemos a contar nossas próprias histórias através de suas letras, com cada melodia servindo de fundo para uma trilha impecavelmente sincronizada com a verdade de nossos corações. No dia em que conheci Rodrigo Amarante, foi isso que quis lhe dizer, em duas tentativas vãs. “Você faz idéia do que a sua arte representa na vida de cada uma dessas pessoas?!”. Era impossível explicar, mas eu torci para que ele houvesse captado a mensagem principal.
Aos sensíveis, o que resta é sentir. Aos jornalistas, a função impossível de escrever resenhas que passem alguma fidelidade informativa aos leitores e aos fãs do resto do Brasil que ainda não foram agraciados com esse presente particularmente especial. Impossível, pois a função dessa banda nunca foi informar a arte, mas fazer músicas honestas, com profundidade artística e sentidos próprios que sintetizassem todos os demais, numa obra plural e significativa nos aspectos mais valiosos da música. Onde mais uma mesma canção é capaz de reunir tantas infinitas interpretações que, no fim, acabam sendo uma só compreensão de “sentimento do mundo”? Drummond tinha apenas duas mãos e esse mesmo sentido, Los Hermanos tem duas mãos vezes quatro cabeças e um infinito sentimento de mundo, do meu e de qualquer mundo onde caibam sentimentos tão intensos.
Cada show da banda representou um marco na minha vida. O início de uma nova fase, a marca de um recomeço, de reconceituações necessárias. Nas apresentações era possível dizer um adeus necessário, mas sem abandono, ou abraçar lembranças preciosas quase a ponto de vivê-las novamente. É uma nostalgia de presente. Saudade do agora. Saudade do futuro que muda a cada vez que decidimos por um presente diferente... Ao olhar nos olhos das pessoas ao lado e ver sua verdade escorrendo pelos seus rostos. Segurar a mão dos que amamos, cantando juntos, e abraçá-los nas faixas mais difíceis. Comunhão artística sim, das mais plenas, do artista, passando pelo meio, chegando ao público.
Pensar que nunca mais haveria um momento assim era um tanto desolador. Nos consolávamos com apresentações cover, rodas de violão ou sessões íntimas em que silenciosamente ou aos berros, ouvíamos música por música, disco por disco, inconformados de saudade. Em Fortaleza temos até uma banda cover “oficial” que se chama Retrato Ventura, com metais e tudo mais, onde íamos periodicamente derramar as lágrimas do triste fim desse sonho, do qual nunca acordamos e que nos recusamos a acordar até hoje.
Então, o grande dia finalmente chegou. E agora? O que sentir? Que sentimentos são esses que vêm tão involuntariamente, sem vergonha, sem pudor? Amor! Cada fã, eu tenho certeza, assistiu aquele show com o maior amor do mundo dentro de si, com os mais nobres e profundos sentimentos que já foram capazes de sentir. Era necessário sorrir, cantar, gritar e chorar ao mesmo tempo. O tempo! Quanto tempo pode durar um show num festival? Ainda era necessário reaprender a sonhar os velhos e queridos sonhos. Eis a chance! Todos os sonhos de volta como numa retrospectiva cinematográfica. O filme da minha vida. E eles voltaram um a um. E eu rezei por coisas que rejeitei. Rezei por coisas que neguei e pelos sonhos que fui forçada a abandonar. Rezei de verdade, minha gente. Eu roguei, com lágrimas nos olhos, por um único daqueles momentos sagrados, nem que fosse o último. Eu dizia aos amigos “vocês percebem que estamos vivendo algo impossível, que jamais aconteceria novamente?!”. Se era possível estar ali, diante de um palco com o Los Hermanos, tudo mais podia ser. E foi.
Não há o que falar da impecabilidade técnica, é fato. Não é necessário comentar o setlist, sempre perfeito. Faltou o Sétimo Andar, mas acho que foi melhor assim. Não sei se eu aguentaria essa... Faltou Casa Pré-Fabricada... Mas acho que não cabia num Ceará Music. Então, faltou a promessa de um show para os fãs. Um show de, no mínimo, duas horas e meia de duração. A gente ajuda, a gente canta, bate palma, faz percussão. A gente sonha com esse dia até ele chegar, mas que chegue... Chegue com ares de quem vem para ficar. Queridos, nós que aqui ainda estamos por vós continuamos esperando.
Obrigada por tornar esse sonho possível.
2 comentários:
Em salvador rolou Sétimo andar!
E aidna um grande final com Quem sabe. !!!
Bom d+!
Estive no show do CM2010 e tbm achei injusto fazer uma volta tão ensaiada num festival. Queria algo que fosse só para nós. Mas não posso negar tbm o quanto foi energizante... aguento mais uma pausa e vou esperar sempre saudosa as pausas das pausas.
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