sexta-feira, 3 de setembro de 2010

e o mar... ainda é amor.

Foi meu "batismo". Não fui avisada de nada, porque não importava. Eu sabia que ia. Todos sabíamos onde deveríamos estar. Mas eu nunca havia ido tão longe... Pede licença e entra. As ondas são a saia rodada da mãe d'água e é dia de festa no mar. Ela dança e você vai passando por entre todas aquelas anáguas. A barra de espuma rendada bate forte no rosto, desafiando seus pretendentes a entrar um pouco mais, a ir um pouco mais fundo. Quanto mais entrávamos, mais ela dançava, nos jogando de um lado para outro, brincando com nossos limites. A praia ia se afastando e as ondas aumentando. Só daquela proximidade é possível assistir na íntegra o espetáculo. Àquela altura, já éramos parte dele. Estávamos ali por uma razão. Possuíamos um propósito maior do que chegar lá, mas ali tudo era válido, tudo era conquista. Por mais que eu nadasse, não parecia o bastante. "Tamo quase lá!" Uma mão amiga extendida, nesse instante, é muito mais que uma força motora, é uma gesto extremo de amor e solidariedade. Toda a força usada ali, na verdade, vem do coração. Os medos esvaem-se num descarte de limitações absurdas que, se permitirmos, nos aleijam a alma. Cada vez que me pergutaram se eu estava bem, eu me sentia ainda melhor. Apesar da dor. A necessária dor de explorar capacidades, colocando-as à prova. Músculos exaustos. Calos em feridas abertas sob os pés-de-pato indispensáveis. O joelho se pronuncia em protesto. Cãimbras no pé. Mas, então, alguém olha e diz com admiração "nunca imaginei ver vc chegar até aqui!", "bem-vinda ao outside!". É inexplicável. A dor exige uma trégua. Hora de se entregar ao mar e deixar ele me devolver generosamente ao iníco de tudo, onde a aventura começa e termina repetidas vezes, sem acabar jamais. Lá dentro a compreensão da natureza vem em plenitude. Não é solitário nem assutador. É um útero sem fim de amor e acolhimento. É a celebração da vida que pulsa em cada metro cúbico de supremacia divina, diante da qual, representamos a consciência de seu mistério. Não é apenas uma experiência esportiva ou meramente contemplativa. É uma savana mística, onde a nossa natureza selvagem nos guia através de nossos próprios mistérios, ali, revelados. E um reencontro consigo, com a fonte de força interior oculta das fraquezas impostas pela vida moderna. O sol se vai em cores irreproduzíveis. Em meio ao êxtase, a dor se mistura com o prazer. Ao sair da água, o corpo posto à prova precisa nos punir pelas feridas magoadas. É imprudente voltar lá agora. Ainda me atrevi, mas o sal e a areia viram uma pomada sádica sobre a pele exposta e sensível. Então, me sento diante da visão magnífica, respiro fundo, enchendo os pulmões daquele momento e espero meus amigos retornarem daquela nossa segunda casa. Eles confiaram em mim e me fizeram confiar também. Eu conquistei o topo daquele dia. Superei a mim mesma, a única que poderia me impedir de fazê-lo. E eu jamais esquecerei novamente que posso fazê-lo sempre que bem entender. Finalmente, somos eu, o amor e o mar. Oxalá!

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